Lucimar Bello (2002 | 2006)
levespesosmemórias é um agrupamento de 1140 quadrados de papel canson (6 x 6 cm). Fiz, diariamente, de 2002 a 2006 (com exceção dos dias em que esquecia), marcas-diários nestes papéis recortados. Na época viajava muito e levava comigo, um “kit-viagem” – vários papéis, uma vasilha de plástico, um vidro de óleo de linhaça, uma vasilha de pó de grafite. Envolvia a ponta do polegar direito em um pedaço de papel higiênico, molhava na mistura de grafite e linhaça, e marcava um gesto-sensação daquele dia. Anotava o dia, a primeira palavra do mês e o local onde estava. Tomava muito cuidado para que, nos hotéis nada virasse lixo. Era um desafio manter uma privacidade, escondia as marcas para não serem jogadas fora, precisavam secar… Os papéis foram sendo empilhados e embrulhados, mês a mês. Os vi juntos, somente quando o trabalho terminou. Ao decidir mudar das Perdizes, o gesto foi sendo deixado de lado… até perceber que este ciclo havia sido encerrado. Estes pequenos papéis brancos são evidências de um corpo em movimento, presenças/levezas de corpos-quase-ausentes, corpos-vivos, pulsantes, larvares. Lembro de Ana Cristina César, Marcel Duchamp, On Kawara, Roman Opalka, Felix Gonzáles Torres.
Foram mostrados no Muna (2006), em duas paredes, formando linhas horizontais seqüenciadas, pois não se tratava de um calendário-ano, mas de anotações de dias e dias… Eram presos à parede apenas por um alfinete branco (aqueles de mapa), não tinham proteção, os halos da linhaça continuavam exalando… As pessoas podiam ver de perto, com lupas presas com elástico, no forro de madeira do museu.